segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Acrescento



Por não utilizar de tão ignóbeis artifícios como aquele a que apelidam de 'adenda', fica aqui um 'acrescento':


Camões, com muita mágoa minha, era pouco receptivo à pala.




Anos de estudo para isto...

M. de H. (5) (Já só uso iniciais)

Great minds think alike.

(Um eufemismo para Somos Bons)


- Vede aqui e aqui o Ente Lectualismo sobre a hora vigésima quinta, essa maldita.

domingo, 28 de outubro de 2007

Sobre a náusea

Há quem enjoe a andar de avião. Há quem sofra de tremuras, de pavores, fobias. Um simples vislumbrar do nível do solo, por alguns dos que por lá em cima andam (malogrados os anjos se a eles me referisse – falo do homem, belo eufemismo de “vulgo”) provoca taquicardias sem são retorno. Graças a deus não padeço de tal enfermidade. Certo é que se me acorrem náuseas ao espírito e à boca nos comboios. E nos automóveis. E em autocarros…
Mas definitivamente não em aviões.
É esta a principal motivação para os meus deslocamentos tenderem a resumir-se a três vias: a santa pata, a deprimente bicicleta, e o majestoso jacto. Este último, naturalmente, apenas em dias de escola, e só em apertos de último minuto. Como se costuma dizer, a vida está cara.

Mudança de Hora (4) (Viva o exagero)


Pequena nota, em que se verifica o vulgar dito que relata a existência de um feitiço e um feiticeiro, e há um que se vira contra o outro.
Estou eu aqui a meio da noite a escrever, humildemente (sublinhar este aparte), neste local, e escrevo um primeiro post, intitulado "Mudança de Hora", a que se segue um outro que, originalmente, tem o nome de "Mudança de Hora (2)", seguido este último por "Mudança de Hora (3)".



Mas, por milagre, a ordem porque aparecem não é esta, na lista dos meus posts mais recentes.


- Porque será? - interrogo-me.



Digamos que:

Mudança de Hora: 1:48 (Primeira ronda da uma da manhã)

Mudança de Hora (2) 1:16 (Segunda ronda da uma da manhã)

Mudança de Hora (3) 1:18 (Segunda ronda da uma da manhã)


Vá lá o computador distinguir as voltas do ponteiro...





Não há direito.

Mudança de Hora

Já dizia o grande "Vaz de" (Luís para os amigos e Camões para a posteridade):
- Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Qualquer "entendido" (infinitas aspas neles) com a sua manhosa habilidade descortina nestas palavras a absoluta certeza da sua invisualidade da vista direita e a sua mania de morder a parte de trás das penas com 24 cm com que escrevia em frios serões de Fevereiro.

Naturalmente, enganados estão. Primeiro, as penas que Camões mordia eram de pelo menos 28 centímetros, sendo que tinha preferência pelas de pavão. Segundo, não tinha qualquer globo cego. Dizendo algo que é provavelmente parco de originalidade, estou convicto de que o luisinho era só um daqueles traquinas que gostava de um dia ser pirata. Como não possuia o "engenho e a arte", dedicou-se a uma arte menor, a literatura. Mas porque se diz que todo o homem tem dentro de si um puto, manteve o seu pequeno fétiche - a pala.
Quanto às noites de Fevereiro... Fénix, faz frio!

Mas não é só nisto que se enganam esses indivíduos.

Camões era um visionário. (bem... semi-visionário, derivado à pala). Já em Mil Quinhentos e Troca o Passo, e isto deslindei eu, com esta cabeça (que, como manda o cliché, a terra há de comer): já o senhor sabia que 5 séculos depois duas vezes por ano se mudaria a hora.

Ora vejamos: ocorre uma repetição dos 'muda-se', o que resume, para qualquer tacanho, uma dualidade. Quem diz tempo diz hora, e vice-versa, está-se mesmo a ver. E de resto é, como diz Luís e bem, "à(s) vontade(s)", que de tanto repetir resultou em "as vontades".

Ouço um roçagar de pó de osso vindo lá dos lados dos Jerónimos. Deve ser Camões às voltas no caixão, de entusiasmo. É isso ou está como eu: a noite avizinha-se comprida e não consegue adormecer.



- Muda-se a hora, muda-se a hora.

Mudança de Hora (3)

A piada (não fui eu que lho chamei, era lá eu que lho chamava) reside no pormenor...

Fui urinar à 1:27 do dia 28 de Outubro.





Mas qual delas?

Mudança de Hora (2)

É este o resultado de divagações inúteis, conversas com o Ente Lectual:

Hoje à noite, à 1:27, fui urinar.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Alcoóis

"Always do sober what you said you'd do drunk.
That will teach you to keep your mouth shut."

Hemingway, o Ernesto.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

XXX

Sacrilégios menores terão sido cometidos, e pessoas enforcadas. Mas isto do futuro tem destas coisas, e creio não ser tomado por um herege ao grafar 'XXX'. Sim, um dos símbolos da pornografia com o qual (não negai) toda a comunidade está familiarizada.

Ora ocorre que, para aqueles de mais límpida razão, XXX é algo de tão inocente como a numeração romana do número 30.

Numa inédita referência à actualidade política neste local de imberbes reflexões, sublinho um pequeno e irónico episódio recente, que não duvido deveria ficar registado nos anais da política social-democrata.

Segundo o semanário Expresso desta semana, e no contexto do passado Congresso do partido do (PPD-)PSD que (adivinhem) foi o trigésimo, foram enviados e-mails da sede para diversos militantes do partido. E o insólito ocorreu:

Correio electrónico devolvido ao remetente.

XXX? Pouca vergonha.




Quiça o filtro objectou (relação com 'abjecto'?) a palavra Menezes.

domingo, 21 de outubro de 2007

O choque

Com um excelente piscar de olho, J. K. Rowling garantiu o não-adormecimento da já terminada saga Harry Potter com a recente afirmação de que uma das suas principais personagens, Albus Dumbledore

(um chico-esperto com barba comprida e nariz adunco, que antes de se esvair um luz verde ainda mandou uns bitaites a roçar o literário:
- It is our choices (...) that show what we truly are, far more than our abilities
- Happiness can be found even in the darkest of times, if one only remembers to turn on the light
- Dark times lie ahead of us and there will be a time when we must choose what is easy and what is right)

é Gay.



(Não, não sou nerd)

Eco


Falo daquele a quem um meu amigo chamou, numa tentativa de se mostrar culto, "Humberto Ego". O novo livro da sua edição, "A História do Feio", merece de certeza interessado vislumbramento. Uma abordagem histórica da fealdade que não se baseie somente na negação da evolução da beleza é no mínimo ousado, e não duvido que, feita por quem é, se revele genial.


Só que por 36 euros, tá quieto.

sábado, 20 de outubro de 2007

Sobre a leitura (3)

Deveria constituir segredo, mas revelo-o:
Aquando do meu quarto romance policial - a consagração - nele incluirei dois capítulos finais de semelhante escrita, sendo um a repetição do outro.

Agradecer-me-ão, indubitavelmente, aqueles que do mesmo que eu padeçam.

E respondo:
- Não têm de quê.

Sobre a leitura (2)

António Lobo Antunes (com desmesurada justiça) termina o seu "Ontem não te vi em Babilónia", com algo de belo: "... porque aquilo que escrevo pode ler-se no escuro."

Não me podendo eu dar a luxos de tal ordem, devo uma explicação para o que em "Sobre a leitura" afirmei.

Embora, por ser feito da massa de que são feitos os homens, tenha inerentemente falhas de memória, momentos há em que a minha vontade mais íntima é a de delapidar, com estilete e martelo, parte do meu fémur esquerdo, e quiçá a tíbia. São esses momentos aqueles em que, por muitos folículos capilares que arranque, por mais que estique os lóbulos das orelhas até ao limite da dor, me é impossível recordar o fim de um livro que li.

Insatisfeito com a minha condição, pensei em procurar um psiquiatra.

Optei por outra via: a do chico-espertismo. Arrisco-me a dizer que não foi infrutífero o meu esforço. Passo a explicitar o teor das minhas conclusões (que são não mais do que uma tradução do primeiro "Sobre a leitura"):

Há partes de um livro que são constantemente revisitadas. Por cada vez que repegamos num tomo literário, para retomar uma sequência narrativa, necessariamente somos obrigados a esforçar o intelecto, para integrar o que de novo absorvemos no paradigma da obra, pelo que se é obrigado a revisitar o passado, o que está antes, o que se fez antes, quem viveu e quem morreu nesse 'antes' livresco. A manutenção dessa acção recordativa actua como catalisador de sinapses, garantindo que (qual pena cuja tinta é o sangue removido das costas da mão, ali marcando o que é escrito com crescente nitidez e definitude) a imagem se vá retendo, perdendo o seu quê de diáfano, encorpando e eternizando a sua substância.

Qual o momento menos vezes relido, repisado? Qual o momento em que "apenas uma vez pousei os olhos, num embate único e derradeiro, sôfrego e libertador -um ímpeto"?
É o fim, esse malfadado episódio que por não ser dupla, tripla, quadruplamente equacionado, corre o risco de, segundo o cliché, cair no esquecimento.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Grumete!

"Não existe caso entre as anomalias numerosas e incompreensíveis da ciência psicológica que seja mais impressionante, mais excitante do que este - desprezado, creio, nas escolas - em que, nos nossos esforços para trazer à memória uma coisa esquecida (...) nos encontramos muitas vezes mesmo à beira da recordação, sem, no entanto, nos podermos recordar."

Edgar Allan Poe

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Citando




"Given the choice between the experience of pain and nothing, I would choose pain."

William Faulkner

Sobre a leitura

Lembro sempre o que recalquei, o que revi. De o repensar se gravou; incrustrou-se em ângulos de memória.
É no que apenas uma vez pousei os olhos, num embate único e derradeiro, sôfrego e libertador -um ímpeto - que me não recordo.

É do fim que me esqueço.