quarta-feira, 30 de abril de 2008

Paralelismos (II)

É este o perigo de quem pensa, ou crê fazê-lo. A satisfação que dá a elaboração de um raciocínio relativamente estruturado nem sempre compensa os riscos que se correm nas conclusões a que se pode chegar.

Obviamente, e por todas as razões que ficaram explicitadas (por paradoxal que tal se afigure), acredito em Deus e no Amor. E no Amor a Deus.

Paralelismos

A definição de amor é-nos, de algum modo, simultaneamente clara e cara. Clara porque instintivamente cremos ter conhecimento, dentro de nós, sobre o ângulo do eixo em torno do qual gira o conceito, e qual a sua consistência e cheiro – a sua essência. Cara por nos ser tão difícil transpor tal noção para palavras, para uma delimitação hermética e definitiva da ideia (e não ousemos pensar nas ideias como aglomerados sinápticos, ou estaremos (ainda mais) fodidos - perdão). Tantos poetas, pensadores e trabalhadores da construção civil procuraram, além de exprimir, definir o amor (leia-se, pela não nomeação de nenhum desses indivíduos, a minha falta de cultura, que espero perdoável). Com sucesso? Todos eles, na expressão do amor. Provavelmente, nenhum na definição. Mas não nos alonguemos, ou parecerá que temos uma opinião formada sobre o assunto, e como se sabe é tal facto perigoso para a nossa integridade física.



Assim de chapa, Que o amor é uma convenção social.


Ultrapassado o inchaço dos globos oculares, podendo a pele retomar a sua posição original, disposta hierarquicamente segundo o desenho das rugas, ordenadamente envolvendo as feições (nota-se talvez alguma tensão ainda, uma crispação, um tremelique - baixe a sobrancelha, minha senhora, ouça-me), e após um coçar desesperado da zona lombar direita (até onde chega a minha mão, sempre insuficientemente longe), acalmemos o espírito.

Não é uma conclusão de génio (dado que não é minha, e não só por essa razão), mas não estamos habituados a ouvi-la, e, admitamos, sentimos alguma repulsa por ela. Nojo. Asco. Repugnância. (Os dicionários costumam dar jeito para estas enumerações pouco frutíferas). Mas, sobretudo, numa primeira fase, incredulidade. Numa segunda fase, pelo contrário, sente-se sobretudo incredulidade. É na terceira que tudo muda, devido a uma acumulação exagerada deste substantivo. Para que é que muda, desconheço.

Se pensarmos no Homem e lhe retirarmos a cultura (na sua forma original, ou seja, sob a forma das redes, interiores e exteriores a ele, por ele estabelecidas) – desafio-vos a fazê-lo, uma vez que não sou dotado de tão elevado nível de abstracção – sobra-nos um animal. Aliás, aproveito para dizer, somente porque fica bonito, que aquilo que distingue o homem do animal é a cultura (e quem diz cultura diz um sem-número de outras algaraviadas, variações sobre um mesmo tema). Consideremos este Homem aculturado, e ponhamo-lo defronte de uma mulher (não se aplica aqui a maiúscula, as minhas desculpas) por quem sentiria amor se de um Homem normal se tratasse. Pois, nada mais que atracção física amor carnal sexo instinto nas suas veias.

Reflictamos mais – faz bem, dizem. Não é imutável, o amor. Não é. A nível pessoal, temporal, geografico-espacial, e noutro tipo de níveis não necessariamente com a mesma terminação mas com a mesma aparência de domínios sérios e compactos. Isso é óbvio – nem sempre, ao longo da história, o nível de enroscamento público de pares de namorados roçou tanto a prática sexual. Nem sempre os casamentos assentaram em relações de amor. Nem sempre os núcleos familiares utilizaram essa grandeza (ofendamo-lo assim, ao amor… depravados!) como, ao mesmo tempo, combustível e alicerce dos agregados. Pequenos exemplos, que devido à sua condição de pequenos e de exemplos são ínfimos na sua representatividade, mas suficientes para os meus humildes intentos.

Conclui-se portanto, no que toca a este assunto, que a convivência interpessoal (há outras, sim, há outras) originou o amor como necessidade organizativa das sociedades, numa primeira instância, como complemento da sexualidade básica e instintiva. Como tal, o amor é, necessariamente, artificial. Por favor (agora sou eu quem pede), inflijam-me diversos tipos de dor física, a bem da minha sanidade. Não quero o amor artificial. O amor não é artificial. Pois não (aleluia), pois não. Porque a nossa realidade deixou de ser mensurável ao nível individual, e dê-se graças a Deus (lá iremos). O que sou funde-se com o que somos de um modo que leva a que a fronteira entre o natural e o artificial se defina, em parte, naquilo que é, na minha relação como o outro, aceite como um processo necessário para o entendimento e funcionamento desse e dos outros elos a que pertencemos.

Desta safei-me.



Com Deus, arrisco, o mesmo se passa. E não mais me alongo, por não querer tornar a referir as moléstias físicas que de uma prolongada reflexão sobre o assunto podem advir. Sendo católico, por herança cultural, hereditária e, espero (não possuo certezas, estou em construção), por convicção pessoal, e não questionando com esta exposição a existência ou não de Deus – quem sou eu, afinal – admito que as teorias são conjugáveis: a de que Ele existe e a de que nós O criámos. O que também não é nada de novo.

domingo, 27 de abril de 2008

25 de Abril (2)



Por muito que não o ache Vasco Pulido Valente, o 25 de Abril serviu para algo.
Quanto mais não seja para uma crónica e um desabafo imberbe e inútil.

25 de Abril

Decorre hoje, minuto por minuto, em lágrimas de mecanismo de relógio, precisas (como dita a máxima inglesa) e invariáveis, o dia 27 (vinte e sete) - ver O meu nome é legião - do mês corrente, de nome Abril, mês amplamente conhecido não só pelas águas que dos céus jorram, não em lágrimas estas, como o já referenciado relógio e o seu mecanismo, mas como cães e gatos (aqui se reflecte uma anglofonia pouco disfarçada e que nem da fonia anglo-esa é dotada, como se pode ouvir pelo meu sotaque desafortunadamente pouco british).

Em primeiro lugar, regresso às frases de dimensão paragráfica - consequências da leitura de Saramago, recentemente agraciado com o agradecimento (estranha combinação) do nosso humilde primeiro-ministro - terceira pessoa mais poderosa do país, para ignorância de muitos.

Em segundo lugar (e último), liberdade é isto, poder celebrar o 25 a 27, sem cravos ou adornos de outra espécie, sem bla bla blas sobre a opressão e censura (insuportáveis à mera referência extenuada) - simplesmente reclinando-me sobre um almofadão dominical, gozando de um tenebroso conto de Allan Poe enquanto a tarde passa por mim, não minuto a minuto, hora a hora, veloz.

Liberdades há muitas.

sábado, 26 de abril de 2008

Eleições do PSD

Antão, Patinha?



Raios, até o nome é ridículo.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Cabelos




"So how could your hair
have the nerve to dance around like that?"
(The National)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Finding Forrester


"No thinking - that comes later. You must write your first draft with your heart. You rewrite with your head. The first key to writing is... to write, not to think!"

(Imaginai a voz do Sean Connery - não há de ser difícil.)

domingo, 20 de abril de 2008

Clubes de Futebol

Já ouvi falar de um certo paralelismo entre clubes de futebol e partidos. Aceitável, sem dúvida, para o normal português, que de política sabe o que na tasca se diz e, também nesse local, se presta à discussão esclarecida (e efusiva) do tema "futebol", em pose de treinador de bancada.

Quero acreditar que, com a política, a decisão da simpatia por um ou outro partido político (se não a militância) em detrimento de outros não se prende por motivos tão independentes da razão como a decisão de simpatia (se não militância) para com um clube de futebol em detrimento de outros. Pode, pelo menos, argumentar-se que, na política, há ideais diferenciadores entres as diferentes escolhas - por muito que a diferença tenda para o sffumato quando é preciso ganhar eleições. Se de pai comunista sai, regra geral, filho comunista - abstenho-me de fazer comentários sobre quão ajuizada é a escolha, excepto "pff!!" - acredito que se deve tal à equivalente transmissão de valores e ideais "hereditários", esses tais que distinguem uns dos outros.


Infelizmente, não posso dizê-lo para o futebol. Não há ideais que distingam o FCP do SCP, ou o SCP do SLB, tirando o arruaceirismo do primeiro, o elitismo do segundo, ou o provincianismo do último.
Nem sequer estas generalizações me são permitidas.


É por isso que não compreendo. Quando ouço um amigo meu dizer "fui mal ensinado" e "já estou velho demais para mudar de clube" (orgulhoso dos seus 18 verões), não posso deixar de reflectir (numa ida à casa de banho a meio de um jogo de futebol) em como as escolhas de clubes são independentes da personalidade de cada um (excepção feita aos oportunistas que "mudam de clube" a cada campeonato), e baseadas quase somente na influência do pai, do avô, do padrinho, do Tio (a maiúscula para o Tio, como a apresentaria certamente Jacques Tati). São etiquetas plenas de vazio - e não é por isso que deixamos de gostar quando descobrimos de alguém novo que conhecemos que simpatiza com os mesmos matraquilhos que nós.










PORQUÊ, Benfica!?

O Quase Nada

Este é, evidentemente, um blog sobre (o) quase nada. E, convicto, afirmo: discorrer sobre (o) quase nada é o caraças.

Explico:
Há tanto por onde escrever
- que limites, (o) quase nada?
mas tanto por onde escolher.
- que limites, (o) quase nada?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Eça

Eça pertence àquela espécie de escritor quase inumano, na representação mental que dele faço. O próprio (e incontornável) bigode, não esquecendo a luneta são elementos que, não obstante o serem ínfimos pormenores típicos de uma figura da Lisboa do séc. XIX, nos permitem ter (em conjunto) uma mais constante imagem (e por isso mais reconhecível e por isso mais querida).

Li mais dele do que me lembro e menos do que gostava.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Charlton Heston


Foi breve o conhecimento que tive do maxilar desta personagem. Breve - 3 horas de cinema - mas suficiente para aqui lhe fazer mais uma vez referência. Morreu no sábado.

(Aqui em versão "Dez Mandamentos")

A Confissão

Contra todas as possiveis previsões de oráculos, horóscopos e professores Karamba, sou obrigado a admitir que admiro a senhora Fátima Campos Ferreira, com os seus mui respeitáveis óculos em punho, e todos quantos ousam participar no programa que (pessimamente, diga-se) a dita senhora apresenta.


Mas não pense o incauto leitor que sou um vendido. Um indeciso, que vai com a maré e muda de opinião como quem troca de peúgas (camisas no original, creio).


Admiro-os, clarifico-o, não pelas posições inteligentes que ali expõem (brilhantes e variadas excepções, profundamente inferiores à regra), não pelas falácias ad hominem a que tão intensivamente recorrem, desvirtuando todo e qualquer debate de ideias lúcidas e racionais, não pela ausência da capacidade básica de assimilação de conjuntos de duas ou três premissas, acessíveis a orangotangos com paralisia cerebral (espero que existam).

Admiro-os pela capacidade de chegarem à noite e dormirem, na sua cama - o pavor de um sonho com laivos de inteligência deve ser terrível - e, sobretudo, admiro-os pela capacidade de não se levantarem a meio do referido programa e espetarem um bom par de bolachadas na apresentadora (sim, até a ela a admiro por isso) ou nos néscios intervenientes que ali proliferam.



(Não sei se se nota muito, mas estive a ver o Prós e Contras e são duas da manhã de segunda feira.)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Indignação

O plural de couve-flor é couves-flores.

domingo, 13 de abril de 2008

(sem título)

Não me obriguem a escrever.


Esse caroço que trago encravado, não na garganta que não sou como os demais, esse caroço que transporto no canal auditivo, que me impede o assoamento condigno sem risco de rebentar com estoutro defeito congénito, aneurisma de seu nome
(um aneurisma o oposto de um caroço?)
e o eczema na virilha.
(Que belas as frases sem predicado, que inúteis)


Não me obriguem a escrever.
Por amor de Deus, não me obriguem a escrever.

sábado, 12 de abril de 2008

Depois dos anos 90 vêm os anos...

Há coisas que pela sua insignificância atrofiam o mais calmo dos terráqueos. Naturalmente, tais insignificâncias derivam em questões filosóficas de fundo (o que é isso de questões de fundo?), atormentadoras, avassaladoras.

Uma dessas é a questão da designação informal que damos às décadas. Como é sabido, a designação dos decénios por "anos 20" ou "a década de 20" não é original do século anterior ao vigente (que desperdício de palavras: XX). O que chega a ser curioso. Porquê é que não sei ainda muito bem.
Pois bem, designação aceitável, até que, porra, chegamos ao ano de (qualquer coisa)99. E agora é que a coisa fica bonita. Entramos em que década a seguir? Que vácuo identificativo é este, meus senhores? Os anos 00? Mas como é que isso se diz? E na década seguinte? São os anos 10? E agora??



Por favor, que alguém me alivie. O exagero das interrogações é prova mais do que suficiente do nível de transtorno de que padeço.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Ente Lectual

Que eu seja um pepino.

(Torna-se óbvia a necessidade de variar os blogs para que "vos" reencaminho)

Os merda

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Da inutilidade

"What are you for/ now that I have hardcore"

The National
(ver Oeiras Alive)

sábado, 5 de abril de 2008

Preguiça

Este é um post sobre a preguiça.