segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Tom Sawyer

- Tenho falhas incontornáveis na minha cultura literária.

Esta afirmação é risível. Afirmo-o por haver poucas que sejam menos óbvias, universais, e por isso desnecessárias. Que diabo, um homem também se engana.


Na verdade tudo isto o disse porque me doía um rim. Ou, bem, porque me faltava o Tom Sawyer no cardápio dos 'lidos' (continua a doer-me um rim às custas do Huck, esse maltrapilho).

Que posso dizer sobre o meu homónimo ficcional?
Se a Becky é loira, força com ele.

De resto, a sua condição de criança
(a minha condição de criança)
faz doer não o rim, não o baço, o cotovelo
(eu uma criança?)
direito
(o mundo o Tom?)
e parte do esquerdo
(as pessoas, Toms?).



(Quem dera...)

domingo, 30 de dezembro de 2007

O Acordo Ortográfico (e outras ninharias)

Deparo-me por vezes com incomensuráveis brechas na língua portuguesa, de que a custo me refaço, numa revoltada (e por isso paradoxal) resignação. A mais recente prende-se com o fato de, em minha opinião, haver falta de uma palavra que satisfatoriamente descreva o 'ato de fazer', sem recorrer a quaisquer 'realização', 'procedimento' ou 'ação', restringindo-se a dita ao ror de vocabulos dotados do étimo 'faz-'.


Diz o dicionário de que sou possuidor que existe o termo 'fazedura'. Recuso-me a analisar esta débil aprendiz de palavra, com sons de receita gastronómica, sal e pimenta q.b. - algo no meu pelo se revolta.

Afirmam-se então como incontornáveis estes:

'Fazimento', 'fazi/o' para os amigos.
'Fazeção', que é um heroico esforço. Resulta, porém, num demasiado arraçado som para o poder justamente considerar.
O meu favorito, o ótimo 'fazedoria'.


Irei prontamente propôr a sua inclusão no nosso esburacado léxico - Houaiss, Academia de Ciências de Lisboa, e todos aqueles que ousem sonhar com um melhor Português.
Que me deem o seu aval.




E já agora, porquê esse desditoso acordo? Que se mantenha o nosso facto e a conseqüência deles.

(ação (c), pelo (ê), heroico (ó), fato (c), ato (c), deem (ê), ótimo (p))

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Do desejo

Não é somente a magia que advém da orgulhosa posse de duas diferentes nomenclaturas, nem tampouco o contraste entre o seu pouco convidativo aspecto e o seu verdadeiro imo que me fascina.
Prende-me o sumo que as embebe, a açucarada solução. O seu esponjoso ser, que assenta na língua, estimulando toda e qualquer glândula (a hipófise, as supra-renais?) que no trajecto do garfo se atravesse.

Quando vem o próximo Natal?





Quero rabanadas.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

150 Palavras

Resposta ao grupo de expressão escrita do mais recente teste de Português:

"A um povo assaz pequeno, como é o nosso, não raras vezes se interroga "O que sois?". Procura a física inferioridade na resposta, e na sua demanda para a achar, elevar-se tanto quanto consiga. Mas que somos então?

Enumerando interrogações da mais simples e trasparente retórica, poder-se-ia responder. Somos os Heróis, os Feitos? Somos as Viagens, o Ouro e os Pretos que possuímos? Somos quem fomos?

As diferenças entre o pretérito perfeito e o presente (quiçá o futuro?) são prova e resposta que baste a tais interrogações. Não somos mais os valorosos Lusitanos que um dia ousaram ir além do areal. Somos o que ficou - a essência, o sentimento a saudade.

É o que defende Pessoa. Que saibamos quem somos para o sermos para sempre."

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Chico-espertismo Literário

Referindo-se a Tom Sawyer, diz Mark Twain, "às páginas tantas":

"If he had been a great and wise philosopher, like the writer of this book, he would now have comprehended that work consists of whatever a body is obliged to do, and that play consists of whatever a body is not obliged to do."


Dammit.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Indignações

Atentem na ofensa.

- Ó 'caixa-de-óculos'!

Que mais ilógica apóstrofe é esta, que pratica uma impensável analogia entre um objecto que suporta (as cabeças objectos?) e estoutro que abre e fecha, com um sonoro 'ploc', e tende a ser irritantemente volumoso?

Ai estes jovens de hoje em dia... (os meus trisavós já mo diziam a mim, que possuo visão de cem por cento).


Isto podia ser direccionado ao Ente Lectual, mas foi. (ler isto é desconcertantemente coiso)