quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Milagres da engenharia

(em technicolor, naturalmente... 1940)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Mau perder

O mau perder é estúpido, bem como o a desmesurada vontade de ganhar. As desculpas e argumentos, o Ah mas eu da outra vez, o Não foste tu que estiveste(s) bem, fui eu que estive mal... (nem merece predicado, isto)

Enfim, temos de nos agarrar a alguma coisa.

Direita Democrática

Nunca ninguém escreve sobre o passeio, sobre a democracia do caminhar, do deixa-passar, do com-licença (com-sua-licença outrora, quando o mundo bem-educado) ou o perdão. Não se discorre sobre aqueles momentos em que alguém nos barra o caminho e hesitamos entre um lado e o outro, acabando impreterívelmente por escolher o lado para o qual o outro, em idêntica situação e no mesmo momento temporal, começa a mover-se. A isto se segue um momento pendular, que é dos mais embaraçosos que possível é. Até as simples pausas, em que se decide ceder passagem, imobilizando-nos, são simultâneas.

Um dia acontenceu-me com um tipo com brinco e devo ter estado perto de apanhar porrada. Mas isso é um pormenor.

Vale-nos o velho espirituoso, essa personagem da urbe nossa. Após segundos de awkwardness ("wkw" - como é possível?) profere o indivíduo idoso:

- Pela direita democrática!

(O riso embrulhado em fuligem de tabaco. Ai! A pretensa sabedoria anciã)


Senilis dixit.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Do que é indelével

Não me recordo (vasculhando na memória por entre os meus 24 posts) se algum dia fiz referência à nomenclatura deste local.

O seu início é porventura pouco digno, e advém, muito provavelmente, de um hábito que têm variadas pessoas (não divulgo nomes) de se interessarem por palavras que em tempos recentes descobriram, ou para as quais novos significados aprenderam. Aqueles percevejos que ao ler num livro a palavra "antípodas" se recordam da sua existência e nos 22 dias que se seguem a empregam de todas as possíveis maneiras, por mais desconchavado e despropositado que seja o seu emprego, sim, é desses que falo.

Pois bem, fui insecto por um dia (quem não?).

Fiquei com a palavra, que deu origem a um texto, que deu origem a um blog, que ainda não originou nada. Ficamos à espera.

Mas valha-nos Deus e a Santa Paciência - Indelével (e não Indelébel, como já me quiseram vender) é o que permanece irremovível, perene, a mancha que de tanto limpar se gravou no tapete da sala. Não é algo de leve (in-de-"léve"-l??) ou de passageiro, é o oposto (está nos seus antípodas, diria)...

Como a melga, que não bastando chatear em vida, noite afora voando de encontro ao meu ouvido, tão irritantemente quanto possível, falece esmagada contra um vidro sujando-o, em mancha que nem jornal remove (porquê jornal para limpar os vidros?).


No fundo o indelével é isto, sou eu e vós, neste blogue de melga. Digo, de merda.

Da aliteração

O universo está cheio de inúteis:

"Mas quem foi o filho de um perro sem pedigree que trouxe as aliterações para as aulas de 'português'?"

Disse-o o António, e digo-o eu.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Sobre as traduções

Há magníficos espécimes de tradução que conseguem dar-me verdadeiras tonturas.
Tradicionalmente são peritos os brasileiros e os espanhóis. A sua ânsia de tradução é admirável. É como se algo de contagioso se tratasse, a palavra da língua inglesa, que tem de quanto antes ser exterminado, devido ao risco de infecção.

- Bluetooth? AARGH Dente azul (com o devido sotaque abrasileirado).
- Johnnie Walker - o celebrérrimo Juanito Camiñante.
- Recordais-vos de Doctor No, o primeiro dos grandes (e originais na sua individualidade) filmes Bond? Em japonês, estreou como sing-tchun-mi-trim-tsu-lau, nos caracteres correspondentes. Admito que não faço ideia como estreou, mas queria dizer algo como "Não queremos um Doutor".
- Também o filme "Are we there yet?" em terras nacionais foi exibido como "Tás frito, meu!" - nem a interrogação de pé permanece. Convém referir que o principal actor tem como nome "Ice Cube" - marca inconfundível de qualidade.
- Também me causa espécie a (aparentemente evidente) tradução do Richard Bach(iano) John Livingstone Seagull - filme ou livro - Fernão Capelo Gaivota em português.

Mas porquê??

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O toque

Não é o défice de pragmatismo e terra-a-terra(ismo) uma característica minha. Não obstante, tenho vindo a insistir nestes demasiado voadores temas, ao mesmo tempo de questionação divagadora da importância da existência e um pouco demasiado científica, porventura, para o vulgo leitor.

Mas não é para o vulgo que escrevo o que quer que escreva.



O toque é algo de comum na nossa sociedade, e dele se fala tavez a menos e dele se abusa talvez a mais. Não me debruçarei sobre isso.
Quero apenas aqui partilhar o que tenho vindo a descobrir nas minhas incursões no mundo da Física. Peço encarecidamente ao leitor que pouse o indicador onde quer que se lhe afigure sensato colocá-lo. Agora aperceba-se da textura, da substância em que se encontra a tocar. Muito bem.

Eu disse pousar, tocar? Hm. Erro meu, peço perdão.

(Aqui vamos nós...) Os elementos dos átomos mais próximos do exterior quais são? Os electrões, que têm carga negativa. O que acontece quando se aproxima um pólo negativo de um magnete a um outro, também negativo, de um outro íman? Pois, repelem-se. Ora o facto é este. Nunca eu, nem o caro leitor, tocou em nada, em nenhum dos dias da sua vida. O último átomo da ponta do dedo limita-se a repelir o último átomo da superfície em que ele "toca", sem nunca de facto fazer contacto, ou fusões atómicas ocorreriam e não seríamos mais do que centrais nucleares do futuro.

Estranho?

Declaro apenas que está para nascer o homem que algum dia tocou numa mulher. E isso assusta-me.

Ainda F.P. e o seu ensino

Fernando Pessoa e os seus interiores eus, exteriores eus, não eus (interiores ou exteriores que sejam), são-nos ensinados a doses de 10 mg a cápsula, num método que tem pouco de difuso e, devido a isso, pouco de F.P..

(- Enigma do ser
- Dor de pensar
- Nostalgia da infância
-...)

Entre binómios pensar-sentir e tópicos avulsos, nada mais é requerido a um aluno actual, no que concerne as respostas a questionário de avaliação de conhecimentos. Nada de reflexão, nada de leitura - chapamento. A arte do chapamento (que no séc. XXI assumiu a corrente do control-c-control-v-ismo) de chavões é incentivada por quem decide o ensino de Português.

Se isto é literatura...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Sobre o Ensino de Poesia

Não ouso, já o disse, falar sobre Fernando Pessoa. Considero que fazê-lo é um pouco como pedir a uma clavícula de uma galinha para opinar sobre a história recente das bolsas de mercado - há dentes a mais à mistura para a humilde cartilagem galinácea.

O que ouso, e com particular irritação, é insurgir-me contra a maneira como sou obrigado a suportar (aplica-se o termo) F.P. nas aulas de Português para onde me tenho de arrastar bisemanalmente. Não que necessariamente se deva tal facto à respectiva ensinante - não o avalio. Deve-se, creio, ao tipo de abordagem (presumo que vinda lá de cima, de quem decide - ou Deus ou os ministros, não sei bem) que de modo sôfrego nos é impingida, à avaliação repisada verso a verso de expressões, cada uma delas porventura não mais do que expressões do que nelas está expresso (perdões pela repetição).

A poesia tem a vantagem (tossidela) de poder ser profundamente conotativa, e portanto obtida a partir de uma leitura de quem a escreve e de um número de outras, também elas intrínsecas a cada sujeito (o leitor), resultando num número, por esse motivo, potencialmente infinito de interpretações. Diria que a poesia assenta no aproveitamento das idiossincrasias individuais que, preenchendo os vácuos interpretativos deixados pelo poeta (entre o que quis escrever e o que escreveu), origina um sem-número de mensagens, ou, se preferirmos, uma mensagem com um sem-número de variantes.

Naturalmente, apenas daqui resulta que o estudo forçado de um poema - em que é atribuída a cada trio de 'esses' (a letra, não o pronome) glosados no mesmo verso uma aliteração, que com o seu sibilante resultado simula o arrastar dos comboios em carris de aço temperado, em dias de chuva, temperaturas moderadas e vento és-noroeste - é tudo menos (ensinar a) ler poesia.

Irrita-me.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O vazio (2)

Desde Demócrito que é assaz conhecida a teoria atómica do mundo - toda a matéria é constituída por átomos, sendo que se determinou com o passar dos tempos que são estes constituídos por ainda inferiores elementos (protões, neutrões, electrões), que são por sua vez constituídos por ainda mais infinitésimos constituíntes, os quarks. Mas isto é do domínio que denominaram de "Space Shuttle", sendo portanto nefasto para as nossas simples e terrenas mentes.

Uma masoquista personalidade como a minha, não satisfeito com as conclusões apresentadas no post que antecende o presente, decidiu alargar tambén estes (parcos) conhecimentos científicos à teoria do "tendemos-para-zero". O facto é que essa tendência se dá a um ritmo ainda mais impressionante. Passo a explicar:

A parte já de si ínfima do Universo a que pertencemos é a da matéria, da existência, das coisas. (Diz o Einstein que matéria é energia e vice-versa, mas simplifiquemos, raios. Um bife é um bife, não um aglomerado de fotões quarckó-bohró-parsecó-ano-luzianos.) A matéria é constituída por átomos. Segundo o livro Breve História de Quase Tudo, em que Bryson também ele cita um outro alguém, se imaginarmos que um átomo é um estádio de futebol, o seu núcleo terá o tamanho de uma cabeça de alfinete, bem no centro do campo. Sabe-se também que os irrequietos electrões ocupam um ainda menos significativo espaço, por incrível que pareça.

E agora vem a parte interessante: o que ocupa o espaço que compreende os limites do electrão, o minúsculo núcleo e os cirandantes electrões?


(Oh não!)
Pois, a resposta é precisamente essa. O vazio.

É verdade, nem na matéria estamos a salvo. O facto é que praticamente 100% do mundo das coisas é não mais do que vazio (é-me incómoda a utilização do verbo ser, vá-se lá saber porquê).



Não sei como raio consigo dormir à noite. Sou mais zero (0) que um (1), mas feliz.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O vazio

Não se dedica este post à melodramática exploração da problemática dos vazios sentimentais, arrasadores que são de dias e noites, tardes dominicais e outros 'menos agradáveis' momentos, por assim dizer.



Das minhas primeiras leituras de Júlio Verne tirei uma de muitas lições: após a terra, o ar, e após a atmosfera, o éter. É o que dá ler Da Terra à Lua sem um qualificado acompanhamento. Foi só quando me abeirei de um dos meus progenitores e orgulhosamente os informei de uma das minhas mais recentes aquisições a nível axiomático - de que o Universo é o éter - que me apercebi da barbaridade, pelo menos ao nível denotativo, daquilo de que estava convicto Jules (e também eu, crédulo infante). Não discutirei aqui até que ponto, ao nível abstracto, não é o Universo Éter e o Éter Universo - deixemos tais divagações para poetas e metafísicos.



Venho aqui deixar uma minha excreção mental (o que é a escrita se não isto) - um exemplar das minhas mais sinceras preocupações como habitante deste mundo.

Tendo tomado conhecimento de que não nos envolve o éter, mas sim o vazio (ou, como científica e elevadamente lhe chamam, o vácuo), e considerando que nada mais tenho para fazer na vida, apanho com isto um tremendo cagaço existencial. Em primeiro lugar, a noção de vazio é complexa, e é bem capaz de me dar dores de cabeça (a mim, que em 17 anos de vida apenas de tal sofri 3 vezes). E depois, toda a física e matemática que me têm obrigado a engolir exame após exame na escola, ensinando-me a pensar em limites, leva-me a fazer proporções espaço vazio/espaço ocupado.

Pensemos: se juntarmos todo o Volume de Universo ocupado por massa, e o compararmos com o Volume ocupado por vazio, o que obtemos? Uma fracção em que o denominador tende para o infinito (tanto quanto sabemos, não possui fim este nosso mundo, por mais desconcertante que seja pensá-lo), um nada.

É esta a verdade. É que para além de pequenos, miseráveis, infinitésimos que nos possamos sentir, a verdade é que tendemos para o nada. Nós, matéria, tendemos para o zero, o vácuo.


O Universo é o não-ser, a ausência. Assustador.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Esquecimento

Os processos mentais são qualquer coisa de extraordinário. Hei-de um dia entender as razões do contraste absoluto entre o a.C. e o d.C. (antes de estar sentado na Cadeira, e o depois de estar sentado na Cadeira), no que toca à criatividade relacionada com a expressão escrita.

A imensidão de imagens cerebrais, que proliferam a todo o momento, sendo que o sofá, derivado à sua moleza (e ao facto de não ser uma cadeira) é um óptimo exemplo de uma incubadora de ideias originais, desvanece-se num momento indefinível, já que infinitesimal. Corresponde este momento àquele em que se tocam o primeiro átomo das calças que (em princípio) cobrem o meu traseiro e o mais elevado átomo, o Kilimanjaro da África azul que é a minha cadeira.

É o momento da obliviação total, em que tudo o que era inspiração se some, formando um nada mental pouco propício a escritores de blogues como eu.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Celebrações

Embora impere a devastadora preguiça, convém informar a minha numerosa audiência (escrituência?) de que o ilustre fazedor deste espaço completou mais um aniversário no passado dia 10.

Os meus parabéns.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Vómito (2)

Que não seja feita uma directa relação entre o reveillon recém-expirado e a asquerosa substância a que me refiro.
















Quanto a uma relação indirecta, já não digo que não.



(mas só como espectador, como compete aos atinados)

Vómito

Não há mais nauseabundo odor que o vómito, que perpetua deste modo um desagradável e contínuo ciclo de exteriorizações de fel e fedor. É um processo moroso.

É por isso que não pratico. Não vá eu ter de me pôr em busca do tempo perdido...