quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Cabelo
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Crise
(Onde já lá vai o Ho Chi Min)
Esperemos que futuros estímulos me afastem desta recessão técnica.
sábado, 26 de julho de 2008
domingo, 13 de julho de 2008
O "mas"
O meu mais recente atormento está na base da nossa matriz cristã, a solene e bela prece do Pai-Nosso.
"Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido." Na repetição, a simplicidade, e mais não é preciso para transmitir a mensagem. Não posso deixar de concordar. O problema é o que se segue.
"Mas livrai-nos do mal."
"Mas"? Espera aí, isto é uma adversativa. Donde é que isto vem? Pois, não vem de lado nenhum. Pergunto-me: o que falhou na cristandade?
Não sei muito bem. Creio que o "mas" está para o Pai-Nosso como está a desencorpada mão com uma faca para a "Última Ceia" de Da Vinci. Mistérios insondáveis da fé.

sábado, 12 de julho de 2008
Burrice
Veja-se: os impostos são os mesmos e a morte é certinha. Pelo caminho, são os burros mais felizes (por desconhecedores e ignorantes), menos decisões são precisas (por ausência de diversidade de opções de escolha) e mais (e mais boas) mulheres obtêm (há uma especial e incompreensível atracção entre os mais belos espécimes deste género e a masculina (sobretudo se musculada) burrice).
(O amigo Sócrates (o grego) era esperto. Eu também não sei nada, ouvisteis?).
terça-feira, 24 de junho de 2008
Numismática e Filatelia
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Critérios do Exame de Português
terça-feira, 17 de junho de 2008
Isto não é o Cardinali
Isto para que não pareça que aqui se permite suprir as minhas recentes ausências com um ror de comentários infelizes da autoria de badamecos excitados, ciumentos e/ou enfadados, sem ofensa para os mesmos (oh nada).
Que este espaço, não obstante a eventual aparência, não é uma pista de circo.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Cá estamos
Aqui está um bom exemplo.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Influências dos pudenda
Tenho uma dimensão umbilical que diz que sim. Tenho uma dimensão cotovelística que diz que sim.
Mas a minha dimensão peniana nega tudo.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Ascensor
Lado A
“Era uma vez” – assim começam todos os contos dignos desse nome. Na triste narrativa aqui apresentada, não era uma vez. Eram muitas vezes, ou não tratasse a curta história da vida de um elevador, que tantos viu subir e tantos mais descer.
Chegado do trabalho, esbaforido após quatro lances de escada à entrada do condomínio (respeitando o cliché do engravatado transpirado, abrindo a gravata ansiosamente), um indivíduo entra no elevador do seu prédio e, assim que se assegura que não é visto, cheira-se em busca de odores denunciatórios, num deprimente espectáculo, felizmente privado. Bafeja para as palmas das mãos, dispostas em forma de concha, para se certificar que o seu hálito não fede a tabaco (não vá a namorada reclamar de novo). Tranquilizado, coça despudoradamente os testículos, penteia as sobrancelhas no espelho e eis que se abrem as portas do terceiro andar, suavemente, com um imperceptível ruído. Sem sequer olhar para trás, esta personagem segue para diante, de mão no bolso e assobio nos lábios.
Lado B
É de dentro para fora que se vê. No momento em que uma criança inicia a sua interacção com o mundo que a circunda, é de si para o mundo que sente. É assim o ser humano: para ele, o Todo é pouco mais que uma extensão de si próprio. Talvez por isso seja, de quando em quando, tão incómodo ser, existir. É tão massivo o mundo e tão pequeno o invólucro de que o Homem é feito. Como se pode transportá-lo, quiçá entre a derme e a epiderme, em células nervosas (uma aposta que nervosas), quem sabe se estas assim denominadas devido ao êxtase, à dimensão da sua responsabilidade, essa de sentir a existência e transportar o Universo. Porventura, nada disto é verdade, nada disto interessa.
A partir do exterior, tudo se afigura igual, fotográfico, estanque, taxativo. Já o oposto, graças a Deus (ousa-se atribuir-lhe a autoria da individualidade das impressões humanas) não se verifica. Cada ângulo de luz, cada hipotenusa, são claras extensões de odores e olhares. Basta que alguém se preste, por um momento, a perguntar-lhes “O que és, que assim passas?”.
Mas quem se dá ao trabalho?
Lado A
Algo súbito na travagem e perro na abertura, abre-se sésamo para mais um passageiro, uma jovem adolescente que, hesitante, entra. Tão enojada como enjoada de si e do seu perfume, aproveita os curtos segundos da viagem para com as duas mãos espremer excreções sebáceas que a sua cara vai libertando, numa expressão tão própria do crescimento do habitáculo estrangeiro a que chamam, os outros, corpo. O seu reduzido amor-próprio é claramente visível pela posição cabisbaixa da sua cabeça, pela inutilidade com que encara as mãos (tamanha a indecisão sobre o que fazer com elas, apêndices dispersos e incómodos). Limpando os dedos ao bolso das calças, espreguiça-se prolongadamente, (antes por mimalhice fosse, que o seu mal são as noites em branco) e deixa, por segundos, que a manga deslize, tornando-se evidentes os cortes no antebraço, desarrumados e feios.
Lado B
Preza-se tanto o movimento. Pfff. “Preza-se”. A acção é idolatrada. É de joelhos (em todas leituras que na expressão se possam vislumbrar) que se dispõem os malandros, os pensadores da dinâmica, esses activistas fanáticos. Provavelmente inexistentes, é certo, mas não menos desdenháveis por isso. O facto é que em qualquer banco de jardim há um velho pronto a clamar do seu etário pedestal que no seu tempo tudo era diferente, que os novos andam depressa de mais, que não mais se pára nunca.
Também quem lê quer movimento. Quantas vezes não foram saltadas, maltratadas e/ou ignoradas descrições, momentos de relaxamento da trama, espaços e tempos de reflexão, exposição, contextualização. Mas não, o que se quer é um contínuo espacio-temporal linear, sem solavancos e curvaturas. Porque é mais fácil.
É pena.
Se a cada paisagem se desse o devido cuidado, há tantos pormenores a descrever. Em cada vão de escada, as luzes, as plantas da dona Elvira, de vasos de plástico a imitar barro, gotas de ferrugem (a quem já se deixaram ver, fictícias e alaranjadas?), teias de aranha, reflexos de reflexos. Não se leria – admito-o. Mas que gozo teria para quem o escrevesse, a minúcia esforçada conduzindo, por via empredrada e sinuosa, para um final de que a priori se sabe estar incompleto. Que fulgor, que energia se pode dedicar a um vão de escada.
É mais difícil falar do estatismo. Que as nuvens passem, qual o problema? Mas qual a forma de cada nuvem, o matiz, o cheiro?
Lado A
Ao abrir das portas vêem-se dois jovens, de olhos inflamados e vermelhos (a suspeição da porteira acertada?) e mãos dadas. Entram, dificilmente ele, com as calças trinta centímetros abaixo do nível da água do mar, de modo mais fluido ela, ansiosa pelo momento a sós. Ao som de ferrugem, um raspar rude, rapidamente se fecha o elevador e, a uma velocidade próxima da do som, sobe a camisola da rapariga. Não tem nada por baixo, excepção feita a um pequeno brilho de metal no mamilo. Curiosamente ou não, o mesmo pode dizer-se sobre o jovem, cujo cinto de couro voou já para o outro lado do pequeno cubículo. Alheios aos espelhos, circundados por valores de temperatura perto da ebulição, não se esquece ele de pressionar no botão de parar (não buzina este, sorte dos dois), acidentalmente carrega ela com as costas, no frenético movimento, nos de todos os andares do prédio. Felizmente que está parado, felizmente que não há alarme. Não tomam precauções, ele por esquecimento, ela porque assentiu. Deixe-se cair uma cortina sobre o desrespeitoso evento, permitindo uma maior privacidade que a pelos jovens procurada neste acto púbico e público.
Lado B
Há algo de fascinante nos espelhos. - Que frase bacoca. - Ninguém reflecte sobre os espelhos. O acto de, olhando para a frente, ver atrás, é um plausível paradoxo demasiado familiar para ser notado. Mas mais curiosos que os espelhos isolados, são os espelhos em elevadores. Porque não se lembra algum louco – uma vez que tantos há, e tão prolíficos – de dissertar sobre esta espécie de reflectores que, quando assim posicionados, ocupando três das quatro paredes, têm a extraordinária e múltipla capacidade de nos desconfortar, se na presença de outros, de nos sublimar, se de matéria narcisista formos feitos e de nos prostrar por terra, se não suportarmos olhar nos olhos a raça de que somos feitos? Pense-se bem: afinal, que espécie de amálgama de plasma desconhecido é esse, que constitui os elevadores sem espelhos?
Lado A
De rompante, penetra uma mulher, bonita de aparência, embora algo de máscara nela seja sensível. Não admira porquê, uma vez que, mal dá por si sozinha, beija o objecto que retira de dentro da roupa interior: um anel, mais ofuscante ainda que o piercing da jovem. Ao que consta, não foram os seus trinta e oito anos de vida – qual a idade a que se cresce, dez, vinte, quarenta? – que a impediram de furtar da casa da pobre senhora, doente de bócio (um terrível espectáculo) onde pratica voluntariado três vezes por semana. Bem que o crescimento afecta a visão da idosa, ou não se safaria tão bem a ladra. As pagará. Ao sinal de paragem, abrem-se as portas, ficando presas algures a meio do seu caminho. Vê-se obrigada a afastá-las (“Elevador inútil!”), uma vez que o seu volumoso traseiro não é possuidor das condições necessárias para atravessar o curto espaço. Uma vez saída, de olhar orgulhoso e determinado, sorri para uma vizinha que passa, que felicita a boa samaritana.
Lado B
No tempo em que havia grades, de madeira as de dentro, de metal as de fora, cuidado com os dedos. No tempo em que havia uma porta por andar, e se podia tocar a parede em movimento – a dúvida entre de quem seria o movimento, das pessoas ou da parede, da parede quase de certeza –, cuidado com as costas e o nariz. No tempo em que as portas se tornaram deslizantes e automáticas – nem sempre muito deslizantes, nem sempre muito automáticas – cuidado com as mãos, os pés, as cinturas. Atenção à célula fotoeléctrica, atenção à porta, assassina de cotovelos.
Lado A
Por vezes, vêm falhas de energia, apagões. O casal que viaja emana um clima mais frio que o mês de Fevereiro que passa – mais depressa que os outros, como é, aliás, seu costume. Olham-se, distantes, como se as argolas que trazem nos dedos fossem uma brincadeira de mau gosto, um equívoco divino. De repente, eis que é chegada a quebra, que congela o tempo e o espaço, e eis que se foi toda a electricidade, reina o breu e antes reinasse o silêncio, que ruído é coisa que por estes lados sobeja. Atiram-se culpas para um lado e outro, uma porque queria ter descido pelas escadas, que até está gorda, outro porque sim está gorda, mas por ele teriam ficado em casa, devido à trovoada. Acalmar-se-iam os ânimos, em princípio, fosse retomada a descensão iniciada mas, aparentemente, nem o retorno da corrente impeliu o elevador a regressar à sua actividade. E enquanto o clima aquece, não com os corpos mas com as palavras e os perdigotos múltiplos com que se vão mutuamente borrifando, eis que surge uma estalada, indistinguível a sua origem na escuridão, mas bem audível o grito feminino. Move-se então o elevador, subitamente. A mulher agradece.
Lado B
Como aguentam os elevadores? Vendo entrar e sair homens e mulheres, vendo entrar que pessoas, que gente, que animais, anos e anos e anos, ininterruptamente, num pára-arranca, sobe-desce. Não se extenuam? Com todo o breu, a degradação e a depravação de que são involuntárias testemunhas, como se não esbate a sua eléctrica vivacidade? Porque não são, gradualmente, dilacerados com artroses de máquina, e tumores nos circuitos? Valerá a pena servir a escumalha e os seus corpos nus assentes em almas perfuradas, que como os balões perfurados tão rapidamente oscilam entre o voo alto e o nada?
Lado A
De tanto ver, o ascensor fechou as portas uma última vez. Desta feita, para sempre.
terça-feira, 20 de maio de 2008
As Desculpas
Talvez esteja para sair um conto.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
sábado, 10 de maio de 2008
Interésse
"Isso não tem interésse nenhum." Bah.
(Eu sei)
Os Jovens e a Política
Este texto, alinhavei-o para o concurso Cidades Criativas, após um pedido da organização para reagirmos às palavras preocupadas (relativamente à participação e interesse na política dos jovens) do Senhor Presidente da República no seu discurso aquando das comemorações do 25 de Abril de 1974 deste ano. Admito que os meus companheiros de grupo ainda não lhe deitaram o olho, o que não se faz. Mas enfim, o que não faz um humilde jovem pelos seus 7 leitores.
Os jovens. Esta frase (tão comummente usada por septuagenários irados com “estas novas gerações”) é tão plena de significado, tão abrangente e tão dada a discussões de índole social e cultural, que é necessária a devida parcimónia no seu uso – e sim, nem de predicado necessita. Os jovens têm vindo e continuarão a ser, durante largos anos, se a actual sociedade assim o permitir, o grupo etário/social simultaneamente mais criticado e mais desculpado.
- Jovens: culpados
Como explicação da crítica, citamos o Senhor Presidente da República, nas palavras que tão sabiamente proferiu no seu discurso, de que convém não só conhecer as linhas gerais mas proceder à leitura extensiva, que é por si só muito elucidativa:
“-os jovens estão menos expostos à informação política pelos meios convencionais de comunicação do que os restantes segmentos da população e mostram também mais baixos níveis de conhecimentos políticos;
(...)
- do ponto de vista do chamado «interesse pela política», os resultados demonstram, e cito textualmente o estudo, um «baixíssimo interesse dos inquiridos entre os 15 e os 17 anos»;
(...)
O estudo colocou aos inquiridos três perguntas muito simples: qual o número de Estados da União Europeia, quem foi o primeiro Presidente eleito após o 25 de Abril e se o Partido Socialista dispunha ou não de uma maioria absoluta no Parlamento. Pois, Senhores Deputados, metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos e um terço dos jovens entre os 18 e os 29 anos não foi sequer capaz de responder correctamente a uma única das três perguntas colocadas.”
É certo que não há aqui uma crítica, apenas uma constatação de factos. Mas a crítica fazemo-la todos nós ao ouvir estas, chamemos-lhes, barbaridades (tão somente por custar ouvi-las). A mensagem é clara: a juventude, grosso modo, não demonstra interesse na política, ponto final.
- Jovens: desculpados
Naturalmente os jovens são irresponsáveis. São novos. Não viveram o 25 de Abril. Têm iPods, telemóveis e computadores. Os jovens isto, os jovens aquilo.
Os políticos não procuram chegar aos jovens, não comunicam directamente com eles. Não há iniciativas de aproximação a esta camada da sociedade. Os partidos, inclusive as juventudes democráticas, estão mais direccionadas para os filhos de quem aos partidos pertence, e não praticam esforços para localmente atraírem quem a elas pudesse aceder e contribuir. Os professores não ensinam política. Os pais não estão em casa. Os telejornais mostram os treinos do Benfica em vez das sessões do Parlamento. Os jornais são caros e desinteressantes e as revistas não falam de política.
Que podiam os jovens fazer, esses coitados?
- Aquilo que entendemos ser a verdade (ou parte dela)
Do que anteriormente se disse, apenas uma parte é verdade. Uma parte suficientemente significativa para se reflectir nela e insuficientemente grande para nos restringirmos à conclusão categórica de que as causas para o desinteresse são as apresentadas. Tentemos, ponto a ponto, reflectir em conjunto (quem isto lê e quem isto escreve).
Como de tenra idade e experiência que são, podem desculpar-se e libertar-se das suas responsabilidades para com a sociedade? Não, todos o sabemos. Não é pela sua juventude que se deixa de punir um criminoso de 15 anos. A expressão assaz odiada “de pequenino se torce o pepino” não pode deixar de fazer sentido num sistema social em que aos velhos se sucedem os novos, num ciclo ininterrupto (excepto em caso de extinção, naturalmente).
“Não viveram o 25 de Abril”. Pois não. Mas não viveram os descobrimentos e sabem que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil e que em tempos fomos Grandes. (Talvez não saibam muito mais do que isto, mas saltemos essa parte.) Um dos problemas da maneira como o 25 de Abril é apresentado e comemorado é a sua repetição pouco imaginativa. Quase parece que, em ânsias de preservar a memória e a identidade e valorizar o esforço, o risco, e o sucesso (embora não num certo sentido, como disse o Senhor Presidente – e não se referia ao comunismo pós-revolução) do 25 de Abril, somos ano após ano bombardeados com as mesmas soirées do “Quis saber quem sou” e do “Grândola Vila Morena”, resumindo a revolução a meia dúzia de cravos, uma mão cheia de cantigas, e referências – extenuantes – à censura e opressão. Não é pelo cansaço que se conquista um público, qualquer que seja o ramo de publicidade – e é de publicidade que estamos a falar, embora de uma, digamos, “boa” publicidade, de valores, educativa e de melhoramento. Devíamos, cremos, repensar a maneira como queremos lembrar o 25 de Abril. Aí, ousamos dizê-lo, pode desculpar-se os jovens, já que não têm o contrabalanço da experimentação e vivência da data referida para equilibrar a memória.
Não esqueçamos também que quando falamos dos jovens de hoje, e lhes apontamos o dedo, se o fizéssemos há vinte e cinco anos, estaríamos muito pior. “Por causa do Estado Novo”, dir-nos-iam. Talvez. Mas ninguém nos tira isso: estaríamos pior.
Não é verdade que não haja iniciativas de aproximação por parte de quem está em cima. O nosso grupo tem, orgulhosamente, membros que participaram no “Parlamento dos Jovens”, criado pela Assembleia da República. A culpa nem sempre é da ausência de intenção, mas sim da ausência de divulgação e da quase nula existência de garantias relativamente a quão seriamente são levadas as opinião expressadas por nós (e este “nós” é apresentado quase corporativamente, por perigoso que seja).
O mundo é diferente, mais global, e as distracções aumentaram, os interesses mudaram. O que não mudou (e, porventura, aumentou até) foi a necessidade que temos uns dos outros, e de um sistema organizativo que nos permita conviver bem e de forma sustentável – falamos de relações sociais, que não só de ambiente vive a palavra “sustentável”. A política é, na sua essência, isso – o meio de encontro, discussão e regulação das vontades individuais (sim, individuais, por estranho que soe a referência umbilical tão proximamente colocada relativamente à actividade política).
Dotados de um “pessimismo que muitos dizem ser uma característica singular do povo português, desde tempos imemoriais” – palavras do Dr. Cavaco Silva – tendemos a ver os lados negativos de tudo e a culpar sempre terceiros. Está, diz-se, na nossa natureza. Que grande treta, é preciso afirmá-lo, o mais assertivamente possível. E repeti-lo: Que grande treta. Culpar o senhor professor – coitado, já tão atacado nos dias que correm – por não ensinar aos meninos que existe um BE e um CDS/PP? Culpar o(a) senhor(a) ministro(a) que não tomou as medidas para que se garantisse que nas escolas os meninos tivessem incontornavelmente acesso a uma formação política, nas aulas de História ou nas aulas de Formação Cívica? Culpar os senhores deputados, os senhores presidentes de câmara, os senhores com S grande? Em parte.
Mas não desculpemos os pais dos (e os) referidos meninos. O desinteresse é intolerável. Não é uma falha nos currículos – é uma falha nos valores. Isso de criticar as gerações que a seguir vêem já os Gregos o faziam. Convém é inovar e contornar, controlar, inverter, de modo a garantir que a mensagem foi passada, e que as pedras basilares da civilização, embora passíveis de evolução – sinais do passar dos tempos – têm de, impreterivelmente, ser sólidas e universais.
Procurem os Senhores, juntamente com a comunicação social, aproximar-se também de nós. A “distância ao poder” a que se referia o senhor Presidente da República é indiscutivelmente real e intolerável. Por exemplo, pensemos nos deputados, que são eleitos, não o esqueçamos – e esquecemos, quase sempre – em círculos distritais, ou seja, eleitos como representantes desses mesmos locais. Quanto lhes exigimos? Quantos nos dão em troca, pela eleição de representantes do povo? A política não devia ser uma interacção baseada em cruzinhas de boletins de um lado (ou de baixo, mais concretamente) e apertos de cinto e reformas duvidosas – ou simplesmente mal, ou não de todo, explicadas – do outro (ou de cima, mais propriamente). E procurem vir às escolas (e quem diz escolas diz aldeias e unidades fabris, jardins zoológicos até), descendo do vosso pedestal.
Não há necessidade de concretizar estas nossas conclusões a um nível estritamente (ou especialmente focado na dimensão) local, como nos foi pedido pelos organizadores deste concurso – a nível nacional o problema é o mesmo, as soluções são as mesmas.
- Conclusão
Não esqueçamos nunca (temos vindo a dizê-lo) que não podemos sempre esperar que chova para beber a água que do céu escorre. Às vezes temos de ser nós próprios a fazer danças da chuva, ou, mais eficaz ainda, trepar às nascentes ou correr para as margens dos rios, para saciar a sede, que não é mais, nesta tosca metáfora, que a necessidade que temos de viver em paz uns com os outros – e com as nossas consciências. O faça-você-mesmo não serve só para a bricolage.
terça-feira, 6 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
Sílabas
O álcool de Dezembro é frio e rouco.
O cigarro amarga. É um cigarro clínico.
Sílabas.
Com sílabas se fazem versos.
O tampo da mesa é liso.
Uma colher é uma forma complexa
familiar e deliciosa.
Um copo é nítido como um criado sem servilismo.
Uma mulher condensa-se
no olhar do poeta.
Um corpo. Duas sílabas.
O dinheiro à justa. A gola da gabardina
para tapar a nuca
e os ouvidos.
Sílabas.
António
Parece que é de propósito.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Paralelismos (II)
Obviamente, e por todas as razões que ficaram explicitadas (por paradoxal que tal se afigure), acredito em Deus e no Amor. E no Amor a Deus.
Paralelismos
Assim de chapa, Que o amor é uma convenção social.
Ultrapassado o inchaço dos globos oculares, podendo a pele retomar a sua posição original, disposta hierarquicamente segundo o desenho das rugas, ordenadamente envolvendo as feições (nota-se talvez alguma tensão ainda, uma crispação, um tremelique - baixe a sobrancelha, minha senhora, ouça-me), e após um coçar desesperado da zona lombar direita (até onde chega a minha mão, sempre insuficientemente longe), acalmemos o espírito.
Não é uma conclusão de génio (dado que não é minha, e não só por essa razão), mas não estamos habituados a ouvi-la, e, admitamos, sentimos alguma repulsa por ela. Nojo. Asco. Repugnância. (Os dicionários costumam dar jeito para estas enumerações pouco frutíferas). Mas, sobretudo, numa primeira fase, incredulidade. Numa segunda fase, pelo contrário, sente-se sobretudo incredulidade. É na terceira que tudo muda, devido a uma acumulação exagerada deste substantivo. Para que é que muda, desconheço.
Se pensarmos no Homem e lhe retirarmos a cultura (na sua forma original, ou seja, sob a forma das redes, interiores e exteriores a ele, por ele estabelecidas) – desafio-vos a fazê-lo, uma vez que não sou dotado de tão elevado nível de abstracção – sobra-nos um animal. Aliás, aproveito para dizer, somente porque fica bonito, que aquilo que distingue o homem do animal é a cultura (e quem diz cultura diz um sem-número de outras algaraviadas, variações sobre um mesmo tema). Consideremos este Homem aculturado, e ponhamo-lo defronte de uma mulher (não se aplica aqui a maiúscula, as minhas desculpas) por quem sentiria amor se de um Homem normal se tratasse. Pois, nada mais que atracção física amor carnal sexo instinto nas suas veias.
Reflictamos mais – faz bem, dizem. Não é imutável, o amor. Não é. A nível pessoal, temporal, geografico-espacial, e noutro tipo de níveis não necessariamente com a mesma terminação mas com a mesma aparência de domínios sérios e compactos. Isso é óbvio – nem sempre, ao longo da história, o nível de enroscamento público de pares de namorados roçou tanto a prática sexual. Nem sempre os casamentos assentaram em relações de amor. Nem sempre os núcleos familiares utilizaram essa grandeza (ofendamo-lo assim, ao amor… depravados!) como, ao mesmo tempo, combustível e alicerce dos agregados. Pequenos exemplos, que devido à sua condição de pequenos e de exemplos são ínfimos na sua representatividade, mas suficientes para os meus humildes intentos.
Conclui-se portanto, no que toca a este assunto, que a convivência interpessoal (há outras, sim, há outras) originou o amor como necessidade organizativa das sociedades, numa primeira instância, como complemento da sexualidade básica e instintiva. Como tal, o amor é, necessariamente, artificial. Por favor (agora sou eu quem pede), inflijam-me diversos tipos de dor física, a bem da minha sanidade. Não quero o amor artificial. O amor não é artificial. Pois não (aleluia), pois não. Porque a nossa realidade deixou de ser mensurável ao nível individual, e dê-se graças a Deus (lá iremos). O que sou funde-se com o que somos de um modo que leva a que a fronteira entre o natural e o artificial se defina, em parte, naquilo que é, na minha relação como o outro, aceite como um processo necessário para o entendimento e funcionamento desse e dos outros elos a que pertencemos.
Desta safei-me.
Com Deus, arrisco, o mesmo se passa. E não mais me alongo, por não querer tornar a referir as moléstias físicas que de uma prolongada reflexão sobre o assunto podem advir. Sendo católico, por herança cultural, hereditária e, espero (não possuo certezas, estou em construção), por convicção pessoal, e não questionando com esta exposição a existência ou não de Deus – quem sou eu, afinal – admito que as teorias são conjugáveis: a de que Ele existe e a de que nós O criámos. O que também não é nada de novo.
domingo, 27 de abril de 2008
25 de Abril (2)
25 de Abril
Em primeiro lugar, regresso às frases de dimensão paragráfica - consequências da leitura de Saramago, recentemente agraciado com o agradecimento (estranha combinação) do nosso humilde primeiro-ministro - terceira pessoa mais poderosa do país, para ignorância de muitos.
Em segundo lugar (e último), liberdade é isto, poder celebrar o 25 a 27, sem cravos ou adornos de outra espécie, sem bla bla blas sobre a opressão e censura (insuportáveis à mera referência extenuada) - simplesmente reclinando-me sobre um almofadão dominical, gozando de um tenebroso conto de Allan Poe enquanto a tarde passa por mim, não minuto a minuto, hora a hora, veloz.
Liberdades há muitas.
sábado, 26 de abril de 2008
terça-feira, 22 de abril de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Finding Forrester
domingo, 20 de abril de 2008
Clubes de Futebol
Quero acreditar que, com a política, a decisão da simpatia por um ou outro partido político (se não a militância) em detrimento de outros não se prende por motivos tão independentes da razão como a decisão de simpatia (se não militância) para com um clube de futebol em detrimento de outros. Pode, pelo menos, argumentar-se que, na política, há ideais diferenciadores entres as diferentes escolhas - por muito que a diferença tenda para o sffumato quando é preciso ganhar eleições. Se de pai comunista sai, regra geral, filho comunista - abstenho-me de fazer comentários sobre quão ajuizada é a escolha, excepto "pff!!" - acredito que se deve tal à equivalente transmissão de valores e ideais "hereditários", esses tais que distinguem uns dos outros.
Infelizmente, não posso dizê-lo para o futebol. Não há ideais que distingam o FCP do SCP, ou o SCP do SLB, tirando o arruaceirismo do primeiro, o elitismo do segundo, ou o provincianismo do último.
Nem sequer estas generalizações me são permitidas.
É por isso que não compreendo. Quando ouço um amigo meu dizer "fui mal ensinado" e "já estou velho demais para mudar de clube" (orgulhoso dos seus 18 verões), não posso deixar de reflectir (numa ida à casa de banho a meio de um jogo de futebol) em como as escolhas de clubes são independentes da personalidade de cada um (excepção feita aos oportunistas que "mudam de clube" a cada campeonato), e baseadas quase somente na influência do pai, do avô, do padrinho, do Tio (a maiúscula para o Tio, como a apresentaria certamente Jacques Tati). São etiquetas plenas de vazio - e não é por isso que deixamos de gostar quando descobrimos de alguém novo que conhecemos que simpatiza com os mesmos matraquilhos que nós.
PORQUÊ, Benfica!?
O Quase Nada
Explico:
Há tanto por onde escrever
- que limites, (o) quase nada?
mas tanto por onde escolher.
- que limites, (o) quase nada?
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Eça
Li mais dele do que me lembro e menos do que gostava.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Charlton Heston
A Confissão
Mas não pense o incauto leitor que sou um vendido. Um indeciso, que vai com a maré e muda de opinião como quem troca de peúgas (camisas no original, creio).
Admiro-os, clarifico-o, não pelas posições inteligentes que ali expõem (brilhantes e variadas excepções, profundamente inferiores à regra), não pelas falácias ad hominem a que tão intensivamente recorrem, desvirtuando todo e qualquer debate de ideias lúcidas e racionais, não pela ausência da capacidade básica de assimilação de conjuntos de duas ou três premissas, acessíveis a orangotangos com paralisia cerebral (espero que existam).
Admiro-os pela capacidade de chegarem à noite e dormirem, na sua cama - o pavor de um sonho com laivos de inteligência deve ser terrível - e, sobretudo, admiro-os pela capacidade de não se levantarem a meio do referido programa e espetarem um bom par de bolachadas na apresentadora (sim, até a ela a admiro por isso) ou nos néscios intervenientes que ali proliferam.
(Não sei se se nota muito, mas estive a ver o Prós e Contras e são duas da manhã de segunda feira.)
segunda-feira, 14 de abril de 2008
domingo, 13 de abril de 2008
(sem título)
Esse caroço que trago encravado, não na garganta que não sou como os demais, esse caroço que transporto no canal auditivo, que me impede o assoamento condigno sem risco de rebentar com estoutro defeito congénito, aneurisma de seu nome
(um aneurisma o oposto de um caroço?)
e o eczema na virilha.
(Que belas as frases sem predicado, que inúteis)
Não me obriguem a escrever.
Por amor de Deus, não me obriguem a escrever.
sábado, 12 de abril de 2008
Depois dos anos 90 vêm os anos...
Uma dessas é a questão da designação informal que damos às décadas. Como é sabido, a designação dos decénios por "anos 20" ou "a década de 20" não é original do século anterior ao vigente (que desperdício de palavras: XX). O que chega a ser curioso. Porquê é que não sei ainda muito bem.
Pois bem, designação aceitável, até que, porra, chegamos ao ano de (qualquer coisa)99. E agora é que a coisa fica bonita. Entramos em que década a seguir? Que vácuo identificativo é este, meus senhores? Os anos 00? Mas como é que isso se diz? E na década seguinte? São os anos 10? E agora??
Por favor, que alguém me alivie. O exagero das interrogações é prova mais do que suficiente do nível de transtorno de que padeço.
terça-feira, 8 de abril de 2008
segunda-feira, 7 de abril de 2008
sábado, 5 de abril de 2008
segunda-feira, 31 de março de 2008
Do Auto-elogio (2)
O auto-elogio é, num estado ideal, não para quem precisa, mas para quem pode. O que é, de resto, óbvio e, ao mesmo tempo, nulo de significado - não vivemos num estado ideal.
(Eis como, após leitura do prefácio dos Bichos, do pseudónimo do rude Adolfo Rocha, aqui se introduz a palavra "ufano" à maluca)
sábado, 29 de março de 2008
Calvino
Pois bem, anuncio já ao mundo que tenho concluído o meu prefácio: lede o primeiro capítulo de "Se Numa Noite de Inverno um Viajante", de Italo Calvino.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Aveiro 2.0
Repito, sem olhar para o post anterior.
Aveiro 2.0
Do Auto-elogio
(Contra minha vontade, revelam-se estas últimas condições sine qua non. Raios, descobri que não sou capaz de praticar o auto-elogio).
Portanto atentai: Dá trabalho.
(Quase diria: veja-se o senhor Primeiro Ministro.)
((Eu disse "Quase"))
quinta-feira, 27 de março de 2008
Conversas de café
Como irrelevante não pode deixar de ser a discussão entre dois grumetes imberbes que vao em conjunto repetindo toadas centenárias, calejadas sabedorias e, de tal conscientes, as redescobrem e oralizadam pelo mero orgulho de também eles as terem proferido um dia ou, porventura, por mera estupidez.
Que o mundo é cão. Pois é, jovens mancebos.
Aguentem-se à bronca.
(Temo deslindar o óbvio: conversa com o António, Ente Lectual)
quarta-feira, 26 de março de 2008
The Postman Always Rings Twice
- A demonstração evidente do meu brilhantismo, derivado do biglotismo (espero que exista tal realidade vocabular própria de mentecaptos) demonstrado nos títulos deste post e do anterior, referindo-se ambos ao mesmo título do mesmo filme
- A negação da minha teoria de que todas as traduções portuguesas são uma vergonha. Há, não há como negá-lo, raras excepções
- O título a que me tenho vindo a referir em demasia possui, segundo a wikipedia, um sentido non sequitur (fica sempre bonito escrever como quem tem a mania que sabe), sendo que se desenvolvem diferentes teorias à volta da sua origem, todas de qualidade inferior ao nível praticado por este blog.
- Este tópico existe apenas porque, segundo a tradicional e amplamente divulgada definição, para alguma coisa ser 'avulsa' requer a existência de no mínimo quatro elementos. Enfim, obrigações sociais e ossos do ofício.
O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes

Depois de largos minutos de fútil reflexão e inevitável desistência relativamente ao significado do título, presenteio a minha vasta audiência (obrigado, avô e António), com esta que é, dizem, uma imagem das mais intensas cenas do cinema não pornográfico.
Observai o feio e invejável semblante de bon vivant de Nicholson, comparável apenas à feia e invejável vida de bon vivant de Nicholson.
terça-feira, 25 de março de 2008
Da Poligamia

Sheik Ilderim: One God, that I can understand, but one wife, that is not civilized.
Sheik Ilderim: It is not generous!
(Sábias reflexões em fictícios tempos de fraternidade semita)
Ben-Hur

O sorriso a roçar o maricas de Charlton Heston, bebendo de braço dado ao seu amigo Messala, não pode deixar de ser agradável, por muito artificial que por vezes se afigure a alguém pouco acostumado a este cinema do tempo dos meus avós (literalmente falando). Um épico não só no seu conteúdo mas também na prova de endurance que é vê-lo (disse-o, por outras palavras, o meu pai) - 4 horas de bom cinema do final dos anos 50 dá trabalho.
Belas imagens da Judeia, bem-pensadas intersecções com a vida de Cristo, num esforço harmónico de simples entendimento e simbolismo de trazer por casa. Vejamos: Messala, ou o belo mancebo do Stephen Boyd, símbolo óbvio da tirania e perversão do Império Romano; Judah (Ben-Hur, o próprio), representante claro do bem, com um toquezinho pró-judaico, desde o momento em que ama e liberta Ester, a escrava, passando pelo salvamento do Cônsul Quintus Arrius (seu inimigo), até ao momento em que, guiado pela sua noiva, e correndo o risco de sofrer contágio, leva mãe e irmã, leprosas de profissão, ao Cristo curador, ocupado então com cruzes e coroas de espinhos; Tibério, não surpreendentemente, incluso no imaginário Asterixiano com que todos nascemos; até Pilatos, o Pôncio, é (agradavelmente para o nosso católico subconsciente) odioso, como lhe compete.
Afinal fazia-se bom cinema. (E as cenas das quadrigas, ai as cenas das quadrigas)
sábado, 22 de março de 2008
Lloret de Mar
quarta-feira, 12 de março de 2008
terça-feira, 11 de março de 2008
Órbitas
Bem, é capaz de não interessar grande coisa.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Achmed (2)
Que tal o vídeo?
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Normalidade
Não, a sério. É normal.
Foda-se.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Dos sorrisos
Em matizes esborrados, manhã afora;
Hesitantes entre o estar e o ficar.
E pronto, atingido que está o mariquismo máximo, tenho apenas a desejar a alguém menos inumano que eu - não será difícil - uma boa semana.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Rato (3) - Cialis tadalafil
Cialis tadalafil é, e tenho pena de não o ter sabido antes do post anterior, um medicamento contra a disfunção eréctil.
Passados o choque e a humilhação, declaro aqui desconhecer a origem deste rato infame.
Mas ainda bem que já estás no lixo.
Rato (2)
Que fique bem claro.
O Rato
Agora temos este objecto (que lhe chamarei: semi-esférico? - não passa de uma ovalóide pretensiosamente deformada com uma rodinha igualmente pretensiosa e um fio que ranhosamente se enrodilha noutros fios em nós a que chamaria cegos não fosse a minha repulsa por lugares comuns (está bem está)) útil.
Útil? Provavelmente. A menos que se trate de um (raios, que lhe chamo?) ovócito de propaganda farmacêutica, com "Cialis tadalafil" estampado no traseiro, e uma irritante fonte de zunido nas minhas colunas, a menos que em movimento sobre o tapete que lhe está reservado. Mas um homem não pode estar sempre a abanar a mão, caramba.
Resultado: lixo.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Sons da Escrita
Quando um homem interroga a água pura dos sentidos e ousa caminhar, serenamente, os esquecidos atalhos de todas as memórias, acontecem viagens — viagens entre o quase tudo e o quase nada.
Então, da raiz dos nervos da memória surge a planta de uma vida escutada no silêncio dos sons da escrita.
Sons da Escrita – à volta de uma ideia de José-António Moreira"
Ocorre que tenho contacto pessoal com esta personalidade - é professor na escola em que estudo e tem contribuído para um trabalho no qual participo. Pouco importa.
O blog a que me refiro, perdão, o podcast a que me refiro, perdão, refiro-me a ambos, circulam na exploração de obras literárias de outrem, sendo constituídos, naturalmente, por duas complementares partes: a componente escrita (o blog) e a leitura pessoal, disponível em áudio, do animador - José-António Moreira - em podcast.
É certo que basta olhar para um top de venda de discos nacional para compreendermos que não é a qualidade que leva à quantidade, ou os tops seriam outros. No entanto, tal não me parece que seja o caso. Os tops de podcasts do iTunes incluem, sempre, na secção de Arte ou de Literatura, em primeiro ou segundo lugar "Sons da Escrita".
Uma ideia estimulante.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Miles Davis - So What
Disse Miles Davis, aquando da gravação de um dos seus discos:
“I'll play it first and tell you what it is later.”
Puro Jazz.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
A chiclet (2)
De mentol, como compete.
A chiclet

Fátima Campos Ferreira
Não basta passarem "Velocidade Furiosa" (e respectivas sequelas) com o Vin Diesel e o seu amigo, um irritante loiro com papel de bonzinho, numa frequência bi-semanal, filmes chineses e japoneses em fraquinhas imitações de um cinema (que é já de si pseudo-)americano todas as sextas-feiras à noite, temos à segunda-feira - temos, digo, tem quem a tal se aventura - que ouvir o país ser debatido com esta espécie de energúmeno como apresentadora.
Até a Maria Elisa (malogrado o facto de nos ter permitido elevar Salazar ao "mais Grande dos Portugueses") faria melhor. E daí... só com uns cafés no bucho.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Entre as 3 e as 4
(Digo eu, de alguém a quem obrigaram a esperar uma hora, num café, 3600 eternos segundos de pasmaceira e inactividade, alguém que dou graças a Deus por não ser eu)
- Se for das 3 às 4 é uma tarde.
(Diz o Ente Lectual.)
Bem visto.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Mau perder
Enfim, temos de nos agarrar a alguma coisa.
Direita Democrática
Um dia acontenceu-me com um tipo com brinco e devo ter estado perto de apanhar porrada. Mas isso é um pormenor.
Vale-nos o velho espirituoso, essa personagem da urbe nossa. Após segundos de awkwardness ("wkw" - como é possível?) profere o indivíduo idoso:
- Pela direita democrática!
(O riso embrulhado em fuligem de tabaco. Ai! A pretensa sabedoria anciã)
Senilis dixit.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Do que é indelével
O seu início é porventura pouco digno, e advém, muito provavelmente, de um hábito que têm variadas pessoas (não divulgo nomes) de se interessarem por palavras que em tempos recentes descobriram, ou para as quais novos significados aprenderam. Aqueles percevejos que ao ler num livro a palavra "antípodas" se recordam da sua existência e nos 22 dias que se seguem a empregam de todas as possíveis maneiras, por mais desconchavado e despropositado que seja o seu emprego, sim, é desses que falo.
Pois bem, fui insecto por um dia (quem não?).
Fiquei com a palavra, que deu origem a um texto, que deu origem a um blog, que ainda não originou nada. Ficamos à espera.
Mas valha-nos Deus e a Santa Paciência - Indelével (e não Indelébel, como já me quiseram vender) é o que permanece irremovível, perene, a mancha que de tanto limpar se gravou no tapete da sala. Não é algo de leve (in-de-"léve"-l??) ou de passageiro, é o oposto (está nos seus antípodas, diria)...
Como a melga, que não bastando chatear em vida, noite afora voando de encontro ao meu ouvido, tão irritantemente quanto possível, falece esmagada contra um vidro sujando-o, em mancha que nem jornal remove (porquê jornal para limpar os vidros?).
No fundo o indelével é isto, sou eu e vós, neste blogue de melga. Digo, de merda.
Da aliteração
"Mas quem foi o filho de um perro sem pedigree que trouxe as aliterações para as aulas de 'português'?"
Disse-o o António, e digo-o eu.
sábado, 26 de janeiro de 2008
Sobre as traduções
Tradicionalmente são peritos os brasileiros e os espanhóis. A sua ânsia de tradução é admirável. É como se algo de contagioso se tratasse, a palavra da língua inglesa, que tem de quanto antes ser exterminado, devido ao risco de infecção.
- Bluetooth? AARGH Dente azul (com o devido sotaque abrasileirado).
- Johnnie Walker - o celebrérrimo Juanito Camiñante.
- Recordais-vos de Doctor No, o primeiro dos grandes (e originais na sua individualidade) filmes Bond? Em japonês, estreou como sing-tchun-mi-trim-tsu-lau, nos caracteres correspondentes. Admito que não faço ideia como estreou, mas queria dizer algo como "Não queremos um Doutor".
- Também o filme "Are we there yet?" em terras nacionais foi exibido como "Tás frito, meu!" - nem a interrogação de pé permanece. Convém referir que o principal actor tem como nome "Ice Cube" - marca inconfundível de qualidade.
- Também me causa espécie a (aparentemente evidente) tradução do Richard Bach(iano) John Livingstone Seagull - filme ou livro - Fernão Capelo Gaivota em português.
Mas porquê??
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
O toque
Mas não é para o vulgo que escrevo o que quer que escreva.
O toque é algo de comum na nossa sociedade, e dele se fala tavez a menos e dele se abusa talvez a mais. Não me debruçarei sobre isso.
Quero apenas aqui partilhar o que tenho vindo a descobrir nas minhas incursões no mundo da Física. Peço encarecidamente ao leitor que pouse o indicador onde quer que se lhe afigure sensato colocá-lo. Agora aperceba-se da textura, da substância em que se encontra a tocar. Muito bem.
Eu disse pousar, tocar? Hm. Erro meu, peço perdão.
(Aqui vamos nós...) Os elementos dos átomos mais próximos do exterior quais são? Os electrões, que têm carga negativa. O que acontece quando se aproxima um pólo negativo de um magnete a um outro, também negativo, de um outro íman? Pois, repelem-se. Ora o facto é este. Nunca eu, nem o caro leitor, tocou em nada, em nenhum dos dias da sua vida. O último átomo da ponta do dedo limita-se a repelir o último átomo da superfície em que ele "toca", sem nunca de facto fazer contacto, ou fusões atómicas ocorreriam e não seríamos mais do que centrais nucleares do futuro.
Estranho?
Declaro apenas que está para nascer o homem que algum dia tocou numa mulher. E isso assusta-me.
Ainda F.P. e o seu ensino
(- Enigma do ser
- Dor de pensar
- Nostalgia da infância
-...)
Entre binómios pensar-sentir e tópicos avulsos, nada mais é requerido a um aluno actual, no que concerne as respostas a questionário de avaliação de conhecimentos. Nada de reflexão, nada de leitura - chapamento. A arte do chapamento (que no séc. XXI assumiu a corrente do control-c-control-v-ismo) de chavões é incentivada por quem decide o ensino de Português.
Se isto é literatura...
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Sobre o Ensino de Poesia

O que ouso, e com particular irritação, é insurgir-me contra a maneira como sou obrigado a suportar (aplica-se o termo) F.P. nas aulas de Português para onde me tenho de arrastar bisemanalmente. Não que necessariamente se deva tal facto à respectiva ensinante - não o avalio. Deve-se, creio, ao tipo de abordagem (presumo que vinda lá de cima, de quem decide - ou Deus ou os ministros, não sei bem) que de modo sôfrego nos é impingida, à avaliação repisada verso a verso de expressões, cada uma delas porventura não mais do que expressões do que nelas está expresso (perdões pela repetição).
A poesia tem a vantagem (tossidela) de poder ser profundamente conotativa, e portanto obtida a partir de uma leitura de quem a escreve e de um número de outras, também elas intrínsecas a cada sujeito (o leitor), resultando num número, por esse motivo, potencialmente infinito de interpretações. Diria que a poesia assenta no aproveitamento das idiossincrasias individuais que, preenchendo os vácuos interpretativos deixados pelo poeta (entre o que quis escrever e o que escreveu), origina um sem-número de mensagens, ou, se preferirmos, uma mensagem com um sem-número de variantes.
Naturalmente, apenas daqui resulta que o estudo forçado de um poema - em que é atribuída a cada trio de 'esses' (a letra, não o pronome) glosados no mesmo verso uma aliteração, que com o seu sibilante resultado simula o arrastar dos comboios em carris de aço temperado, em dias de chuva, temperaturas moderadas e vento és-noroeste - é tudo menos (ensinar a) ler poesia.
Irrita-me.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
O vazio (2)
Uma masoquista personalidade como a minha, não satisfeito com as conclusões apresentadas no post que antecende o presente, decidiu alargar tambén estes (parcos) conhecimentos científicos à teoria do "tendemos-para-zero". O facto é que essa tendência se dá a um ritmo ainda mais impressionante. Passo a explicar:
A parte já de si ínfima do Universo a que pertencemos é a da matéria, da existência, das coisas. (Diz o Einstein que matéria é energia e vice-versa, mas simplifiquemos, raios. Um bife é um bife, não um aglomerado de fotões quarckó-bohró-parsecó-ano-luzianos.) A matéria é constituída por átomos. Segundo o livro Breve História de Quase Tudo, em que Bryson também ele cita um outro alguém, se imaginarmos que um átomo é um estádio de futebol, o seu núcleo terá o tamanho de uma cabeça de alfinete, bem no centro do campo. Sabe-se também que os irrequietos electrões ocupam um ainda menos significativo espaço, por incrível que pareça.
E agora vem a parte interessante: o que ocupa o espaço que compreende os limites do electrão, o minúsculo núcleo e os cirandantes electrões?
(Oh não!)
Pois, a resposta é precisamente essa. O vazio.
É verdade, nem na matéria estamos a salvo. O facto é que praticamente 100% do mundo das coisas é não mais do que vazio (é-me incómoda a utilização do verbo ser, vá-se lá saber porquê).
Não sei como raio consigo dormir à noite. Sou mais zero (0) que um (1), mas feliz.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
O vazio
Das minhas primeiras leituras de Júlio Verne tirei uma de muitas lições: após a terra, o ar, e após a atmosfera, o éter. É o que dá ler Da Terra à Lua sem um qualificado acompanhamento. Foi só quando me abeirei de um dos meus progenitores e orgulhosamente os informei de uma das minhas mais recentes aquisições a nível axiomático - de que o Universo é o éter - que me apercebi da barbaridade, pelo menos ao nível denotativo, daquilo de que estava convicto Jules (e também eu, crédulo infante). Não discutirei aqui até que ponto, ao nível abstracto, não é o Universo Éter e o Éter Universo - deixemos tais divagações para poetas e metafísicos.
Venho aqui deixar uma minha excreção mental (o que é a escrita se não isto) - um exemplar das minhas mais sinceras preocupações como habitante deste mundo.
Tendo tomado conhecimento de que não nos envolve o éter, mas sim o vazio (ou, como científica e elevadamente lhe chamam, o vácuo), e considerando que nada mais tenho para fazer na vida, apanho com isto um tremendo cagaço existencial. Em primeiro lugar, a noção de vazio é complexa, e é bem capaz de me dar dores de cabeça (a mim, que em 17 anos de vida apenas de tal sofri 3 vezes). E depois, toda a física e matemática que me têm obrigado a engolir exame após exame na escola, ensinando-me a pensar em limites, leva-me a fazer proporções espaço vazio/espaço ocupado.
Pensemos: se juntarmos todo o Volume de Universo ocupado por massa, e o compararmos com o Volume ocupado por vazio, o que obtemos? Uma fracção em que o denominador tende para o infinito (tanto quanto sabemos, não possui fim este nosso mundo, por mais desconcertante que seja pensá-lo), um nada.
É esta a verdade. É que para além de pequenos, miseráveis, infinitésimos que nos possamos sentir, a verdade é que tendemos para o nada. Nós, matéria, tendemos para o zero, o vácuo.
O Universo é o não-ser, a ausência. Assustador.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Esquecimento
A imensidão de imagens cerebrais, que proliferam a todo o momento, sendo que o sofá, derivado à sua moleza (e ao facto de não ser uma cadeira) é um óptimo exemplo de uma incubadora de ideias originais, desvanece-se num momento indefinível, já que infinitesimal. Corresponde este momento àquele em que se tocam o primeiro átomo das calças que (em princípio) cobrem o meu traseiro e o mais elevado átomo, o Kilimanjaro da África azul que é a minha cadeira.
É o momento da obliviação total, em que tudo o que era inspiração se some, formando um nada mental pouco propício a escritores de blogues como eu.
domingo, 13 de janeiro de 2008
Celebrações
Os meus parabéns.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Vómito (2)
Vómito
É por isso que não pratico. Não vá eu ter de me pôr em busca do tempo perdido...